O Nascimento do canto coral no vale do Sinos
Num lugar de aspecto tão triste e deprimente, era natural que as pessoas sentissem solidão. Os pensamentos se voltavam ao passado. As imagens da pátria distante surgiam, a nostalgia se instalava e a tristeza invadia as almas. Mas o alemão tem um remédio poderoso e eficiente contra tudo isso: é a música ("Quem canta seus males espanta"). As noites de inverno, em sua terra natal, chegavam a durar quase vinte horas. Não havia cinema, rádio e nem televisão, todos os inventos modernos, que pudessem distrair as pessoas. Era preciso criar algo e eles criaram. Fundaram corais, bandinhas de música e orquestras. Esta tradição trouxeram os imigrantes consigo e se serviram dela para espantar a solidão, combater a saudade e minimizar a nostalgia. Era preciso reagir. E eles reagiram com as armas que possuíam. Nos encontros, em fins de semana e aos domingos, na "venda", para deliciar-se com uma cerveja, no encontro com os amigos, o álcool subia à cabeça e a saudade descia ao coração. Vinham as lembranças da querência distante e as melodias conhecidas e trazidas na memória brotavam do fundo da alma. Os mais talentosos cantavam em duo, um baixista se juntava e o coral começava a nascer. Dali em diante para formar um coral, apenas um passo. Foi o que aconteceu, pela primeira vez, na Colônia Alemã de São Leopoldo, no antigo Porto das Telhas, ou no "Passo", e ainda na versão dos imigrantes, no "Stadtplatz" (lugar da cidade), hoje São Leopoldo. Uniram-se oito pessoas, amantes da música, formando um quarteto duplo. Eram quatro tenores, dois barítonos e dois baixos. "Eles cantavam, cantavam, porque tinham um pendor e gosto natural, trazido de sua terra de orígem, pela arte do som e da harmonia, cantavam, porque uma força irresistível, arraigada profundamente, transmitida e apurada através de muitas gerações, os impelia a cantar, a expandir por essa forma, todos os sentidos de alegria e de dor, que lhes brotavam abundantes e puros da alma e do coração." *
Fleck, Lúcio. A Saga do Vale - História da Imigração Alemão no Vale do Rio dos Sinos - Vol. 1, Edição do autor: Sapiranga, p. 289
* Petry, Leopoldo. São Leopoldo Berço da Colonização Alemã do Rio Grande do Sul - Vol. 2, Oficinas Gráficas Rotermund S. A.: São Leopoldo, p. 122
Nenhum comentário:
Postar um comentário